Por: Viaje Mais/ Raíra Venturieri
Cumuruxatiba fica a 223 km de Porto Seguro (BA), dos quais 32 km são de estrada de terra. Dá umas quatro horas de carro. Não é um lugar muito fácil de chegar, e dizer que suas belas praias semidesertas valem o esforço é um tanto subjetivo se tratando de um País com cerca de 8.000 km de costa,com trechos tão belos quanto o sul da Bahia. O que realmente faz do vilarejo tão especial não é uma coisa só. É a união de praias tranquilas e limpinhas com restaurantes de primeira. A junção de baianos, índios pataxós, mineiros, cariocas, suíços, alemães, africanos, italianos e até as polosulenses baleias jubarte. A impressão que dá é que todos que passam por lá querem ficar, montar restaurantes ou pousadinhas. Talvez isso explique o grande número de estabelecimentos voltados para o turismo em um lugar que recebe tão poucos visitantes, especialmente se comparado com outras praias do Estado. Mas se você considerar as atrações desse distrito do município de Prado, que além das praias tem um povo acolhedor e as baleias mais próximas da costa do Brasil, a conclusão é que Cumuruxatiba ainda não foi descoberta. O lado bom é que isso faz com que a natureza lá seja muito mais preservada que em qualquer outro lugar da Bahia. Por isso, o visitante que gosta de praia, sossego, boa comida e gente hospitaleira não sabe o que está perdendo.

A região do vilarejo, que inclui o núcleo urbano e arredores, tem cerca de 5.000 habitantes — e grande parte deles nasceu muito, muito longe. Dolores Lameirão, por exemplo, veio de Angola, na África, levando à Cumuru todo o conhecimento gastronômico que adquiriu em anos trabalhando como chef no seu continente e na Europa. Foi nessas andanças que conheceu o suíço Walter Kunzi, com quem se casou e montou na cidade baiana o restaurante Mama África. Entre os pratos que unem culinária africana e internacional há o popular Muamba, originalmente à base de frango e lá adaptado com os peixes da região, acompanhado do molho especial que dá nome à refeição. Para provar a especiaria, nem precisa ir em alta temporada — basta entrar em contato com Dolores e encomendar o prato . Como você já deve ter percebido, a gastronomia em Cumuru é bem caprichada. Além dos estrangeiros que levaram região pratos bem particulares, há ótimos restaurantes de comida regional, que são beneficiados pela fartura do mar da Costa das Baleias. Peixes, camarões, lulas, polvos e lagostas dominam os pratos na vila. E, para os padrões das cidades turísticas, os preços até que não são salgados. No restaurante Catamarã, o prato mais caro (e imperdível) é o ã arroz de polvo — espécie de risoto à base de leite de coco, azeite e coentro. O Catamarã fica no alto de uma falésia em frente à Praia da Areia Preta. O visual é espetacular.

Japara Mirim é a única praia de nudismo de Cumuru. É legal até para quem não é adepto do naturalismo, porque mesmo na alta temporada não fica muito cheia. Japara Mirim é do tipo de fazer cair o queixo até de quem não é muito fã de praia. A larga faixa de areia é limitada por altas falésias, todas enfeitadas por coqueiros nas bordas. Também não deixe de ir à Barra Cahy, uma das melhores para banho, na dali, na divisa entre a Costa das Baleias e o norte Costa do Descobrimento. É a mais famosa de Cumuru, na apenas pela beleza, mas principalmente pelo passado histórico. Muitos acreditam que foi exatamente ali que Nicolau Coelho, um dos capitães da frota de Cabral, travou o primeiro contato entre portugueses e índios. Essa teoria é reforçada por trechos da carta de Pero Vaz de Caminha e por fatos geográficos.
ALÉM DAS PRAIAS Você pode escolher entre passar um dia preguiçoso em uma praia, um dia explorador pipocando pelo litoral ou um dia aventureiro, procurando baleias em alto mar. São ótimos passeios para aproveitar o sol baiano, que só encerra o expediente bem tarde, depois das 18h. Não é uma boa ideia ficar na praia até escurecer, até porque muitas das estradinhas da região não têm asfalto nem iluminação. Portanto, antecipe-se: em um fim de tarde, corra ao mirante do Morro da Fumaça e aproveite a melhor vista da vila, enfeitada pelo mar ao fundo repleto de barquinhos de pescadores. Apesar de o sol não se pôr no mar, e sim na montanha oposta, a vista vale a pena. Depois de curtir o espetáculo do mirante, outra vantagem: você já está pertinho da vila, a poucos minutos de conhecer os pacatos estabelecimentos e simpáticos moradores de Cumuru. Um dos lugares lá que mais se enquadram nessas categorias (pacato e simpático) é o EspaSu, bistrô que é também um pouco de tudo. Além da cozinha deliciosa, o espaço da goiana Sued Vieira de Souza tem banca de revistas, locadora de DVDs, biblioteca comunitária, loja de artesanato, internet wireless e brinquedoteca. Perto do EspaSu, bem em frente à praça principal, o Ateliê Renata Homem é a loja de artesanato mais especial da vila. Outro lugar bacana para quem está atrás de arte é o Atelier Eliana Begara, há apenas um ano no vilarejo baiano. As peças não são tão exclusivas (quem conhece Cunha, a cidade paulista do artesanato, já viu coisas muito parecidas), mas ainda assim vale uma olhada. Eliana domina técnicas como o raku, tradicional queima japonesa. A visita é legal para conhecer as obras e também para aprender — a artista adora explicar como são feitas as peças. Além do artesanato à base de cerâmica, você encontra na vila lojas com produtos indígenas feitos com materiais naturais. Os colares, por exemplo, são bem trabalhados e baratos — não passam de R$ 10. Em uma dessas lojinhas conheci a índia Naiá, que apesar de morar na vila (em uma casa que ganhou dos filhos), ainda preserva algumas tradições Pataxós. Perto de Cumuru há diversas aldeias Pataxó, como a Cahi e a Tibá. Esta última fica a pouco menos de 10 km do centro e as agências de receptivo de Cumuru organizam passeios de carro ou jipe para quem quiser conhecê-las — custa R$ 80 para até quatro pessoas. E mais interessante na alta temporada (dezembro a março), quando os índios organizam apresentações de música e dança para os turistas. Para quem estiver realmente interessa do na cultura Pataxó, a dica é ir até a aldeia Barra Velha, entre Corumbau e Caraíva. O acesso a ela é possível somente por meio de barco.

Cumuru é tranquila o ano todo e até mesmo na alta temporada dá para ficar à vontade nas praias, sem farofada. A vantagem desse período, que vai de dezembro a março, é que os estabelecimentos ficam todos abertos (muitos lugares fecham no resto do ano) e há diversos eventos na vila, como apresentações de capoeira e dos índios Pataxós. Porém, se você quiser ver baleias jubarte, deve ir entre julho e novembro. A vila é bem mais vazia nessa época, e os restaurantes que costumam funcionar só na temporada podem atendêlo normalmente se você der uma ligadinha antes avisando que vai.
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