terça-feira, 29 de março de 2011





Por Submarino viagens, http://viagem.br.msn.com/




Por: Viaje Mais/ Raíra Venturieri


Cumuruxatiba fica a 223 km de Porto Seguro (BA), dos quais 32 km são de estrada de terra. Dá umas quatro horas de carro. Não é um lugar muito fácil de chegar, e dizer que suas belas praias semidesertas valem o esforço é um tanto subjetivo se tratando de um País com cerca de 8.000 km de costa,com trechos tão belos quanto o sul da Bahia. O que realmente faz do vilarejo tão especial não é uma coisa só. É a união de praias tranquilas e limpinhas com restaurantes de primeira. A junção de baianos, índios pataxós, mineiros, cariocas, suíços, alemães, africanos, italianos e até as polosulenses baleias jubarte. A impressão que dá é que todos que passam por lá querem ficar, montar restaurantes ou pousadinhas. Talvez isso explique o grande número de estabelecimentos voltados para o turismo em um lugar que recebe tão poucos visitantes, especialmente se comparado com outras praias do Estado. Mas se você considerar as atrações desse distrito do município de Prado, que além das praias tem um povo acolhedor e as baleias mais próximas da costa do Brasil, a conclusão é que Cumuruxatiba ainda não foi descoberta. O lado bom é que isso faz com que a natureza lá seja muito mais preservada que em qualquer outro lugar da Bahia. Por isso, o visitante que gosta de praia, sossego, boa comida e gente hospitaleira não sabe o que está perdendo.

A região do vilarejo, que inclui o núcleo urbano e arredores, tem cerca de 5.000 habitantes — e grande parte deles nasceu muito, muito longe. Dolores Lameirão, por exemplo, veio de Angola, na África, levando à Cumuru todo o conhecimento gastronômico que adquiriu em anos trabalhando como chef no seu continente e na Europa. Foi nessas andanças que conheceu o suíço Walter Kunzi, com quem se casou e montou na cidade baiana o restaurante Mama África. Entre os pratos que unem culinária africana e internacional há o popular Muamba, originalmente à base de frango e lá adaptado com os peixes da região, acompanhado do molho especial que dá nome à refeição. Para provar a especiaria, nem precisa ir em alta temporada — basta entrar em contato com Dolores e encomendar o prato . Como você já deve ter percebido, a gastronomia em Cumuru é bem caprichada. Além dos estrangeiros que levaram região pratos bem particulares, há ótimos restaurantes de comida regional, que são beneficiados pela fartura do mar da Costa das Baleias. Peixes, camarões, lulas, polvos e lagostas dominam os pratos na vila. E, para os padrões das cidades turísticas, os preços até que não são salgados. No restaurante Catamarã, o prato mais caro (e imperdível) é o ã arroz de polvo — espécie de risoto à base de leite de coco, azeite e coentro. O Catamarã fica no alto de uma falésia em frente à Praia da Areia Preta. O visual é espetacular.


Japara Mirim é a única praia de nudismo de Cumuru. É legal até para quem não é adepto do naturalismo, porque mesmo na alta temporada não fica muito cheia. Japara Mirim é do tipo de fazer cair o queixo até de quem não é muito fã de praia. A larga faixa de areia é limitada por altas falésias, todas enfeitadas por coqueiros nas bordas. Também não deixe de ir à Barra Cahy, uma das melhores para banho, na dali, na divisa entre a Costa das Baleias e o norte Costa do Descobrimento. É a mais famosa de Cumuru, na apenas pela beleza, mas principalmente pelo passado histórico. Muitos acreditam que foi exatamente ali que Nicolau Coelho, um dos capitães da frota de Cabral, travou o primeiro contato entre portugueses e índios. Essa teoria é reforçada por trechos da carta de Pero Vaz de Caminha e por fatos geográficos.


ALÉM DAS PRAIAS Você pode escolher entre passar um dia preguiçoso em uma praia, um dia explorador pipocando pelo litoral ou um dia aventureiro, procurando baleias em alto mar. São ótimos passeios para aproveitar o sol baiano, que só encerra o expediente bem tarde, depois das 18h. Não é uma boa ideia ficar na praia até escurecer, até porque muitas das estradinhas da região não têm asfalto nem iluminação. Portanto, antecipe-se: em um fim de tarde, corra ao mirante do Morro da Fumaça e aproveite a melhor vista da vila, enfeitada pelo mar ao fundo repleto de barquinhos de pescadores. Apesar de o sol não se pôr no mar, e sim na montanha oposta, a vista vale a pena. Depois de curtir o espetáculo do mirante, outra vantagem: você já está pertinho da vila, a poucos minutos de conhecer os pacatos estabelecimentos e simpáticos moradores de Cumuru. Um dos lugares lá que mais se enquadram nessas categorias (pacato e simpático) é o EspaSu, bistrô que é também um pouco de tudo. Além da cozinha deliciosa, o espaço da goiana Sued Vieira de Souza tem banca de revistas, locadora de DVDs, biblioteca comunitária, loja de artesanato, internet wireless e brinquedoteca. Perto do EspaSu, bem em frente à praça principal, o Ateliê Renata Homem é a loja de artesanato mais especial da vila. Outro lugar bacana para quem está atrás de arte é o Atelier Eliana Begara, há apenas um ano no vilarejo baiano. As peças não são tão exclusivas (quem conhece Cunha, a cidade paulista do artesanato, já viu coisas muito parecidas), mas ainda assim vale uma olhada. Eliana domina técnicas como o raku, tradicional queima japonesa. A visita é legal para conhecer as obras e também para aprender — a artista adora explicar como são feitas as peças. Além do artesanato à base de cerâmica, você encontra na vila lojas com produtos indígenas feitos com materiais naturais. Os colares, por exemplo, são bem trabalhados e baratos — não passam de R$ 10. Em uma dessas lojinhas conheci a índia Naiá, que apesar de morar na vila (em uma casa que ganhou dos filhos), ainda preserva algumas tradições Pataxós. Perto de Cumuru há diversas aldeias Pataxó, como a Cahi e a Tibá. Esta última fica a pouco menos de 10 km do centro e as agências de receptivo de Cumuru organizam passeios de carro ou jipe para quem quiser conhecê-las — custa R$ 80 para até quatro pessoas. E mais interessante na alta temporada (dezembro a março), quando os índios organizam apresentações de música e dança para os turistas. Para quem estiver realmente interessa do na cultura Pataxó, a dica é ir até a aldeia Barra Velha, entre Corumbau e Caraíva. O acesso a ela é possível somente por meio de barco.


Cumuru é tranquila o ano todo e até mesmo na alta temporada dá para ficar à vontade nas praias, sem farofada. A vantagem desse período, que vai de dezembro a março, é que os estabelecimentos ficam todos abertos (muitos lugares fecham no resto do ano) e há diversos eventos na vila, como apresentações de capoeira e dos índios Pataxós. Porém, se você quiser ver baleias jubarte, deve ir entre julho e novembro. A vila é bem mais vazia nessa época, e os restaurantes que costumam funcionar só na temporada podem atendêlo normalmente se você der uma ligadinha antes avisando que vai.


sexta-feira, 4 de março de 2011

Estrangeiros 'estudam' Brasil para aprender a ganhar dinheiro no país

Com crise na Europa, empresário deixou Itália atrás do mercado brasileiro. Em 2010, o investimento estrangeiro no Brasil foi o maior desde 1947.

Enrico Soffi, 45 anos, deixou a Itália em abril do ano passado e veio ao Brasil focado em construir imóveis de até R$ 270 mil, voltados para a classe média. Investiu R$ 1 milhão em 2010 e prevê ampliar em pelo menos 50% os aportes este ano. ”Queremos aproveitar a falta de habitação que têm as classe C e B, que estão crescendo e não têm a capacidade de comprar uma casa de R$ 600 mil”, diz Soffi, que vê um momento de expansão “extraordinária” no país.

O caso de Enrico não é isolado: de acordo com dados do Banco Central, mais de US$ 15 bilhões de dinheiro estrangeiro entraram na economia do país só em dezembro, por meio de investimento direto na produção. No ano, o montante chegou a US$ 48,4 bilhões, maior valor desde 1947, em meio a um cenário em que a economia no Brasil está aquecida e que países ricos da Europa lutam para superar as sequelas deixadas pela crise financeira internacional.

Para não se perder em um mercado que difere em idioma, sistema tributário e preferências culturais, Enrico buscou a ajuda de uma consultoria especializada e se saiu bem. Desfecho diferente do que teve a empresária também italiana Sônia Ferrari, que demorou mais de um ano para conseguir tirar um visto permanente para atuar no Brasil como investidora: enfrentou muita fila e burocracia até entender o que estava errado com a sua documentação.

"Demorei um tempo pra entender que estive com problema, nada se faz sem experiência. Vi que estava mal assessorada e por isso depois fui procurar e testar mais escritorios", diz ela que, depois que conseguiu a assessoria correta, obteve o visto em menos de dois meses. Mesmo assim, acredita que o potencial de ganhos no Brasil compensa os obstáculos.

"Com certeza vale a pena. Para qualquer empresa de grande porte seria um erro fatal não conquistar o seu espaco aqui hoje, e preparar o seu futuro para tempos ainda melhores daqueles que já estamos vivendo aqui no Brasil", analisa. "Sei de muitas empresas americanas e europeias que já estavam aqui antes da crise e que os lucros daqui ajudaram seus balanços de forma sensível", diz.

É preciso entender a cultura do país e as suas peculiaridades"Sônia Ferrar, consultoraHoje, ela abriu uma empresa para orientar estrangeiros na mesma situação de "desamparo" inicial. Mais que isso: representa marcas europeias que precisam de contato, distribuição, compradores e parceiros para entrar com suas operações no Brasil. O foco principal são as marcas de sapatos, bolsas e acessórios, em projetos que somarão mais de R$ 15 milhões só no ano da implementação.

"É preciso entender a cultura do país e as suas peculiaridades, fazendo isso com profissionais e assessores de comprovada experiência. Uma empresa que queira entrar no país e não ter problemas não pode subestimar esse aspecto", ensina Sônia.

Na consultoria KPMG, a demanda de estrangeiros por informação sobre o Brasil cresceu tanto que a empresa criou uma unidade específica para esse tipo de atendimento. A KPMG Global Business, criada em novembro, tem o objetivo de dar ao estrangeiro um "intensivão" sobre o país.

"Pegamos representantes de diversos setores para dar um 'banho' de Brasil no investidor; organizamos estrategicamente atendimentos que já aconteciam de forma separada. A gente acha que isso é o que o governo o deveria fazer também: centralizar as informações para recepcionar esse público", diz Marienne Coutinho, uma das líderes do projeto.

Augusto Salles, outro sócio líder do Global Business, diz que a procura estrangeira aumentou de duas consultas por semana para duas por dia. Origens variadas – EUA, Inglaterra, China, Índia e Japão aparecem entre os interessados - e dúvidas de todo tipo. Desde chineses projetando investimentos de bilhões, até empresas americanas que cobiçam o mercado de caixas d'água no Brasil. "Tem diferentes níveis de conhecimento. Uns já conhecem as peculiaridades, o tamanho, a economia emergente. Outros têm uma visão ingênua, tipo: 'eu tenho uma caixa d'água matadora que se chegar no Brasil vai arrasar. Vocês usam caixa d'água no Brasil'?", conta Salles.

Grande parte do interesse desse dinheiro internacional pelo país vem do grande potencial de crescimento do consumo brasileiro. Levantamento feito pela consultoria KPMG com investidores potenciais de diversos países do mundo aponta que, dos 500 entevistados, 66% afirmaram que pensam em investir no Brasil para aumentar a base de consumidores por meio dos mercados locais e regionais.

Estamos mais bonitinhos porque eles (Europa) estão feios, então parece que nós somos a virgem linda. Eu acho que o Brasil está normal"Jenesi FigueiredoAlém disso, 41% já investem no Brasil e pretendem expandir suas operações; outros 10% também já são investidores, mas não têm planos de expansão. Questionados sobre qual é o atual ou pretendido modelo de negócios da sua empresa para o Brasil, 53% responderam investimento estrangeiro direto.

Jenesi Figueiredo também orienta estangeiros na FK Consultoria e diz que uma das razões para tanta atratividade brasileira é a situação ruim da Europa, abatida pela crise.

"Estamos mais bonitinhos porque eles estão feios, então parece que nós somos a virgem linda. Eu acho que o Brasil está normal", avalia. Em seu escritório, que teve expansão de 20% no movimento no ano passado, atende-se em italiano, inglês, sueco e até árabe.

"A imigração tem regras, e tem gente que não acredita nisso até ser deportado. Já temos muitos italianos, espanhóis e alemães vindo em função das Olimpíadas e da Copa do Mundo", diz.

O engenheiro francês Vincent Lefeuvre, 40 anos, comemora o fato de ter se interessado em investir no Brasil desde antes de 2002, ano em que se casou com uma carioca e mudou-se definitivamente para cá.

"Cheguei antes da crise na Europa, mas foi durante a crise que eu percebi que eu tive razão de investir no Brasil. Agora eu tenho na frente dos outros uma vantagem de cinco anos. E isso vale ouro no mundo dos negócios", diz o dono da Tecohnopolis Consulting, especializada em estruturar e implementar fábricas e parcerias entre empresas estrangeiras e brasileiras no setor industrial. A previsão é de que em 2011 a empresa invista entre R$ 200 mil e R$ 400 mil em escritórios e contratação de pessoal qualificado na area da gestão de projetos e contratos.

Na opinião do francês, o caminho para evitar problemas por falta de informação é mesmo buscar ajuda privada. "É mais uma pista de obstáculos permanentes. Os problemas não impedem a empresa de funcionar, mas tem um custo de tempo e de energia muito alto", diz ele, que garante já estar habituado à lentidão do processo . "A burocracia é terrível. Mas não é pior que na França".

Ligia Guimarães
Do G1, em São Paulo