sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

FÉRIAS

Olá meus amigos, estou saindo de férias e com certeza estou indo para onde ??
Um excelente natal a todos e que o ano vindouro seja repleto de alegrias e
muita saúde. By, By, até final de janeiro............................

Ilhabela

A Ilhabela é uma e ao mesmo tempo duas. Revela-se relativamente luxuosa e moderna no lado voltado para o continente, na mesma medida em que é rústica e selvagem em sua face banhada pelo mar aberto. Separadas por uma cadeia de montanhas que ocupa 80 por cento de seu território, as duas facetas da mesma moeda apresentam gigantescas diferenças culturais entre seus habitantes mais isolados e os visitantes mais endinheirados.Para traçar seus caminhos pela ilha, é preciso definir de que lado você está. Se preferir a orla que dá para o Canal de São Sebastião, sorria: o "Primeiro Mundo" abre as portas e você terá direito a hotéis e pousadas de ponta, lojas e restaurantes sofisticados, bares e danceterias da moda e, mais recentemente, até ausência de borrachudos. Agora, se optar ficar de cara para o Atlântico, prepare-se: um mundo quase intocado e cheio de desafios o espera. Talvez nem tão de braços abertos assim, como deixam claro os freqüentadores do lado mais desafiador desta peculiar porção de terra a 200 quilômetros da cidade de São Paulo. Nenhum deles despreza as benesses do pedaço "desenvolvido", mas é do lado de lá, de frente para o mar agitado, que eles deitam e rolam.Seja sobre uma bicicleta ou a bordo de um caiaque (seu "meio de transporte" preferido), o empresário paulistano Cristian Fuchs, de 33 anos, adora as dificuldades para desbravar a região. Mesmo quando ainda não existia estrada para os extremos da ilha, Cristian pedalava horas e horas entre a Praia do Jabaquara, no norte, e a Ponta do Sepetiba, no sul. Mas foi empunhando um par de remos que esse aventureiro desbravou (e ainda desbrava) a segunda maior ilha oceânica do Brasil - com 346 quilômetros quadrados, Ilhabela é menor apenas que a de Florianópolis. Nem é preciso dizer que sobram boas histórias nas lembranças de Cristian. "Há uns três anos estava indo para o Bonete, quando uma baleia orca se aproximou do barco e me acompanhou por 20 minutos", conta, com orgulho. Golfinhos e tartarugas ele já encontrou muitos, além de pingüins perdidos na Ponta do Boi - justamente um dos lugares mais perigosos da ilha, pela exposição aos ventos e às correntes marítimas.O encantamento de Cristian com Ilhabela dá uma trégua quando ele fala das dificuldades encontradas pelas comunidades caiçaras. Nesse ponto, sua voz sobe o tom. O inconformismo é com as artimanhas descobertas pelos forasteiros para burlar a lei que impede a construção de casas de veraneio em área de preservação ambiental. "Conheço um rapaz nascido nas Anchovas, que vendeu a casa para um turista e nem sequer foi empregado como caseiro", conta. "O garoto foi parar na favela em São Sebastião", fala com a indignação de quem sabe que o drama vivido por seu amigo não é caso isolado. Sem ir fundo nas memórias, lembra quatro casos semelhantes: "O boteco que tinha no Saco do Eustáquio foi comprado para virar um restaurante caro. Na Praia da Fome, já fui recebido com uma arma apontada para a cabeça, porque o cara simplesmente cismou que a praia é só dele. E a área antes ocupada por caiçaras na Praia de Indaiaúba agora tem até heliponto!"
FELIZ DIFICULDADE -Polêmicas imobiliárias e fundiárias à parte, o fato é que Ilhabela ainda esbanja preservação ambiental. Pelo menos 85 por cento dela está dentro dos limites de um parque estadual, o que faz do município de Ilhabela o campeão em cobertura vegetal no Brasil. Mas é fácil perceber que a natureza local tem sido poupada principalmente devido à extrema dificuldade de locomoção pelo interior da ilha. O terreno é muito acidentado e, felizmente, o projeto de circundar a ilha com uma estrada, concebido na década de 80, foi por terra abaixo com os senões impostos pela geografia e pela indisposição de ambientalistas e parte dos moradores. Sorte a nossa. Imagine os 2,3 milhões de visitantes que pegam a balsa para cá, todos os anos, circulando sem restrições por todos os cantos.O que seria das 300 espécies de aves que vivem por aqui? Ou ainda do cururuá, um rato peludo e cheio de espinhos, endêmico da região? Todos estariam mais ameaçados, assim como as bromélias, orquídeas e árvores centenárias, como figueiras e guapuruvus, que os trilheiros mais ousados encontram na Mata Atlântica que cobre quase todo o município.Há quem discorde da dificuldade de acesso ao lado selvagem da ilha, inclusive alguns caiçaras que vivem batendo à porta da prefeitura pedindo a colocação de cascalho e tubulação para escoar a água da chuva na estrada de Castelhanos, única forma de cruzar a ilha sobre quatro rodas. Mas os esportistas de todas as estirpes fazem coro com os ambientalistas e agradecem as restrições e os buracos impostos.Principalmente os jipeiros, para quem chegar a essa praia de ondas fortes ao cabo de um festival de trancos, solavancos e derrapagens ao volante é um prazer intenso. Otacílio Marcondes, 59 anos, é um deles. Ele lembra feliz da ocasião em que 35 jipes ficaram presos por dois dias em Castelhanos, tal era o lamaçal que tomara conta da estrada. A ironia é que o episódio só aconteceu porque a prefeitura resolveu "arrumar" a estrada. "Foi feita uma terraplenagem para corrigir buracos e erosões erosões, mas choveu e a terra fofa que cobria os buracos virou um mingau. Os carros comuns foram atolando um a um, bloqueando a estrada", relembra.
477 MORTOS
Ilhabela não impõe dificuldades de ir e vir só para quem se desloca por terra. Que digam os navegadores. Pelo menos 50 naufrágios aconteceram em seus arredores, principalmente nas partes sul e leste da ilha. O pior deles foi na temida Ponta da Pirabura, onde hoje existe um providencial farol, mas que no Carnaval de 1916 foi palco do maior naufrágio da costa brasileira, quando o transatlântico espanhol Príncipe de Astúrias colidiu com uma laje submersa. Morreram 477 pessoas, a maioria espanhóis - cujos corpos, levados pelas ondas, explicam o nome da Praia de Castelhanos. Para quem sabe e gosta de mergulhar em meio a ferragens recortadas, a região é um legítimo cemitério de incautas embarcações, com tesouros submersos que desafiam a imaginação dos aventureiros.O instrutor de mergulho Akira Matsuda, 44 anos, cansou de ver cápsulas e projéteis carregados pelo navio brasileiro Aymoré, submerso no ano de 1920, próximo à Praia do Curral, esta ao lado do Canal de São Sebastião. Akira, que uma vez sentiu a morte de perto ao se enroscar numa âncora e ficar três minutos com a respiração presa até conseguir se soltar, adora ter a oportunidade de rever a hélice intacta do primeiro naufrágio registrado na ilha, em 1894. É do vapor inglês Dart, que se perdeu num nevoeiro e se estatelou nos paredões na região de Borrifos. A hélice do vapor Velázquez, que sucumbiu em 1908 ao ser arremessado de encontro aos costões da Ponta da Sela, também continua intacta - só que, em vez de decorar o fundo do mar junto ao navio, enfeita a parede de uma pousada bem perto dali. O mergulhador manda um recado para o espertinho que se apoderou da relíquia: "Tudo que está debaixo d'água há mais de cinco anos pertence à União".
UMA CACHOEIRA POR DIA -Se existe uma pessoa que transita pelos opostos da ilha, esta figura é a vice-campeã mundial de kitesurfe Bruna Kajiya, 20 anos. Nascida em Vinhedo, interior de São Paulo, e criada na Ilhabela, Bruna mora numa linda casa em frente ao Canal de São Sebastião. Quando não está competindo ao redor do mundo, freqüenta bares e danceterias do centro, mas não deixa de ir até o lado selvagem da ilha de barco. Sua primeira parada costuma ser na escondida Praia do Poço, onde um riacho forma uma gostosa piscina natural, antes de desaguar no mar. Depois de um banho refrescante, que alivia as picadas de borrachudo, ela vai explorar trilhas em Castelhanos.Bruna recomenda uma trilha de 50 minutos até a Cachoeira do Gato, com 65 metros de altura. É a mais alta da ilha, que tem pelo menos 360 quedasd'água identificadas, uma para cada dia do ano. Outro ponto sempre visitado pela kitesurfista é o Saco do Sombrio. Cercado por morros altos cobertos de vegetação nativa, é um refúgio para embarcações que buscam águas mais calmas. Durante o final do século 16 e boa parte do 17, quem se escondia ali eram navios piratas, não apenas para se proteger de tempestades, mas principalmente para lançar ataques furtivos contra frotas espanholas que traziam ouro do Peru. Aliás, foi a presença dos corsários que desencadeou o início da colonização em Ilhabela. Os portugueses se viram obrigados a proteger as vilas litorâneas e instalaram fortificações na ilha e no continente.A última parada sugerida por Bruna é no Bonete, mas quem pode contar melhor sobre essa calma vila de pescadores, acessível apenas de barco ou após quatro horas de caminhada, é o guia Alexandre Cruz. Aventureiro nato, o paulistano de 33 anos se orgulha de ter sido amigo do saudoso Manoel Branco, habilidoso construtor de canoas escavadas em troncos de guapuruvu. "Naquela época, por volta de 1990, os visitantes eram ainda mais raros no Bonete. Eu era um deles e ficava hospedado na casa do seu Manoel. Tinha um vínculo emocional com os caiçaras, coisa que não existe mais hoje", explica. Mesmo com o fim das tradições, Alexandre ainda enxerga a ilha como um ambiente mágico. Vangloria-se de conhecer locais em que quase ninguém esteve, tomando cuidado para não deixar sinais de sua passagem. Não leva facão para limpar o trajeto e assume o risco de se perder de vez em quando. "Certa vez, numa caminhada de Jabaquara a Castelhanos, tive de voltar no meio do caminho porque as urtigas, formigas e pontas de bambus quase acabaram comigo. Minhas canelas eram pura carne viva", declara, sem antes prometer voltar lá e finalizar o percurso.
CAIÇARAS E SURFISTAS -Alexandre também se dá ao luxo de não contar para ninguém uma ou outra trilha que ele considera intocada até hoje. "Só os moradores locais sabem chegar", diz, depois de dar pista sobre uma delas: "Ela liga o Saco das Tocas, na Ponta do Diogo, à Ponta da Pirabura, no lado selvagem da ilha". De volta ao Bonete, ele destaca a associação que se reúne constantemente para discutir as necessidades de seus 260 habitantes. Se for necessário, pegam seus barcos e vão exigir providências na prefeitura. Com essa mobilização, já conseguiram posto de saúde, turbina para geração de energia e telefone via satélite. A atitude quase política do povo do Bonete contrasta, no entanto, com a postura da nova geração. "A molecada não quer aprender a plantar mandioca ou construir um barco", lamenta Marcio, um dos poucos jovens atuantes na associação. "Só pensam em ganhar presentinho dos surfistas, como tênis e camisetas da moda", comenta, sem, no entanto, perder a esperança de que a terra do lado oculto da ilha continue andando lado a lado com sua gente e não sirva apenas como uma bela e reservada paisagem de cartão-postal para poucos.